Esta
semana é especial para quem gosta de astronomia. Teremos um evento
que, de tão raro, só ocorre novamente em 2117. O trânsito de Vênus
ocorre quando o planeta passa em frente ao Sol e poderá ser visto no
extremo noroeste do Brasil (Acre, Roraima e oeste da Amazônia) e outros
países, em especial no Leste Asiático e Oceania.
"Ele tem uma
frequência que é meio estranha. A última vez que aconteceu foi oito
anos atrás, em 2004, e a próxima será em 2117. O ciclo todo demora 243
anos. Acontece uma vez, acontece oito anos depois, daí se passam 121
anos e meio, aí acontece mais dois com oito anos de diferença e depois
mais uma pausa de 105 anos e meio", diz o doutor em astronomia Gustavo
Rojas, encarregado do observatório da Universidade Federal de São
Carlos (UFSCar) e membro do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla
em inglês). "Ele (o fenômeno) é periódico, mas não numa periodicidade
do tipo que estamos acostumados."
Se você está em um dos Estados
que vão observar ou vai estar fora do Brasil, lembre que para ver o
fenômeno é necessário proteger os olhos. "Nunca se deve olhar para o
Sol diretamente. Para se observar, deve-se tomar os mesmos cuidados
para fazer uma observação solar - por exemplo, de um eclipse. Então, ou
você usa um filtro solar astronômico, que é uma película de um
polímero especial - geralmente só quem é astrônomo é que tem acesso a
esse tipo de material -, ou então você observa através de um método
chamado método da projeção. Você pega um telescópio, aponta para o Sol,
mas você não vai olhar pelo telescópio, mas para a imagem projetada
por ele em uma tela", diz o astrônomo.
Até mesmo câmeras digitais
mais simples, que não conseguem ajustar - ou ajustam muito pouco - o
tempo de exposição, podem ter seus sensores danificados pela luz
intensa da nossa estrela. Além disso, você certamente não vai conseguir
registrar nenhuma imagem do fenômeno com elas. Rojas diz que sem
auxílio de telescópio é possível ver o trânsito, mas vai ser difícil, o
ideal é ter pelo menos um binóculo, sempre com proteção.
Podemos
ver apenas os trânsitos de Vênus e de Mercúrio. O motivo é muito
simples: só vemos passar na frente do Sol corpos que estão entre nós e a
nossa estrela. O trânsito do primeiro planeta do Sistema Solar é bem
mais frequente, tivemos um em 2006 e depois teremos em 2016, 2019 e
2032, afirma Rojas.
O trânsito de Vênus já foi usado para medir a
distância média da Terra ao Sol - a famosa unidade astronômica (UA),
uma das unidades de distância usadas pelos cientistas. Além disso, o
tamanho desse planeta já foi calculado com um desses eventos e até foi
descoberto que ele tem atmosfera. Contudo, hoje temos métodos mais
precisos para descobrir esses dados. "Não tem mais relevância
científica (...) mas você continua investigando, porque, de repente,
pode ocorrer um evento que você não está prevendo", diz o pesquisador.
Contudo,
os trânsitos de planetas fora do Sistema Solar hoje são utilizados
exatamente para descobrí-los. A passagem desses corpos em frente às
suas estrelas causa mudanças no brilho, o que permite aos astrônomos
registrá-los. A Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês) vai
observar o evento de terça-feira para tentar melhorar ainda mais essa
técnica.
Terra
Click PB
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